Ambiente Interativo para Hyundai Mostra Black 2011
O que faz um espaço residencial tornar-se um lar? Seria sua decoração? Seus objetos? As pessoas que partilham o espaço? As memórias depositadas por lá?
O ambiente interativo “O que faz de uma casa um lar?” busca instigar os visitantes a refletirem sobre os significados e subjetividades associados às nossas casas.
Quando fomos convidados para participar da Mostra Black, nos deparamos com um cenário perfeito para fazer essa pergunta, afinal, a casa que vai nos acolher, já hospedou João, Amélia e sua família e remonta um período importante da nossa história. A casa de arquitetura neoclássica foi construída nos anos 1940 e tem projeto do arquiteto francês, naturalizado brasileiro Jacques Pilon. Esse arquiteto teve uma importante atuação no cenário brasileiro, especialmente em São Paulo, entre os anos 1930 e 1960 e ao lado dos arquitetos Gregori Warchavchik e Rino Levi contribuiu para a formação da arquitetura modernista brasileira. Pilon foi responsável por edifícios relevantes em São Paulo como o Edifício Paulicéia, na avenida Paulista, e a Biblioteca Municipal Mario de Andrade.
Em nosso primeiro ambiente, o hall de entrada da casa, convidamos os visitantes a responderem a pergunta “O que faz de uma casa um lar?” através de um sms, via twitter ou pela interface touch screen. Este ambiente abriga um volume vermelho, com sua forma gerada a partir um perfil estrudado de uma casinha tradicional. Esse volume atravessa todo espaço e suas aberturas direcionam o olhar do visitante para partes interessantes da arquitetura da casa. Essa mesma estrutura enquadra pedaços da história do imóvel e da família, objetos que antes estavam esquecidos, agora revelam memórias, como os azulejos com o brasão da família, pintado à mão pela moradora. Esse objetos foram encontrados abandonados durante a obra, e se antes eram peças que ninguém notava, agora são parte fundamental da nossa narrativa. Objetos contam histórias e se forem boas histórias então serão bom design.
Subindo a escada temos a continuação do nosso ambiente, onde o visitante visualiza sua resposta num papel de parede digital colaborativo, que se transforma no decorrer dos 30 dias de exposição. As palavras mais recorrentes ganham importância e para serem notadas elas crescem e se comportam de maneiras diferentes das outras. Sensores espalhados pelo piso do ambiente detectam a vibração dos visitantes e essa informação é enviada para a parede, estimulando novos comportamentos nesse habitat de significados.
Esse papel de parede adiciona uma instância virtual ao ambiente, chamando a atenção dos visitantes para o fato de que nossos espaços serão cada vez mais híbridos entre o universo analógico e o digital, entre os átomos e os bits.
A narrativa acaba no banheiro público feminino, que teve seu forro removido e parte de seus revestimentos retirados para revelar sua estrutura, numa atmosfera onírica em que peças sanitárias conversam com os visitantes através do toque, revelando o pensamento de convidados sobre a pergunta “O que faz de uma casa um lar?”. Atores, músicos, designers, empresários, celebridades e pessoas comuns compartilham suas reflexões. Uma luminária central é composta por lustres originais de outros cômodos da casa.
Seria um ambiente interativo um catalizador para transformar uma casa num lar? Como nós arquitetos, ao projetar um espaço, poderíamos criar um ambiente em branco, aberto, adaptativo, apto a ser facilmente transformável pelo seu morador? Se o tempo faz uma casa tornar-se um lar, as novas tecnologias digitais poderiam contribuir para encurtar esse tempo? Poderiam elas adicionar novas camadas de significados aos nossos espaços?